Lição 3 – Missões transculturais no antigo testamento

Lição 3 – Missões transculturais no antigo testamento

Na lição passada, exploramos a dimensão missionária de Deus através de sua interação com Abraão. Hoje, nosso foco se volta para a nação de Israel, um povo singularmente escolhido com um mandato missionário específico. Este mandato é ilustrado nas histórias do Antigo Testamento, como a de Elias e a viúva de Sarepta, bem como a missão de Jonas a Nínive.

Além disso, pretendemos examinar as alianças divinas estabelecidas com a humanidade, usando Israel como um microcosmo para entender a vontade de Deus.

É importante notar que o termo “missão”, tal como o entendemos na atualidade, não é explicitamente delineado no Antigo Testamento quando se trata do papel de Israel como o povo escolhido de Deus.

Neste contexto, é crucial entender que a nação de Israel não foi apenas um grupo étnico ou político, mas um instrumento nas mãos de Deus para a realização de Seus propósitos universais.

O Antigo Testamento nos oferece uma rica tapeçaria de narrativas e ensinamentos proféticos que nos ajudam a compreender a complexidade da missão divina.

Israel, um Povo Escolhido para um Propósito Missionário

Nesta seção, vamos aprofundar nossa compreensão sobre Israel como um povo não apenas escolhido, mas escolhido com um propósito missionário específico.

Este propósito vai além das fronteiras geográficas de Israel e se estende à humanidade como um todo, conforme revelado nas escrituras do Antigo Testamento.

O plano de Deus

Desde a fundação do mundo, Deus tinha um plano meticulosamente orquestrado para a proclamação do testemunho de Jesus Cristo a todas as nações e povos da Terra (Gn 12.3; cf. Mt 24.14; 28.18-20).

Este plano não era apenas uma aspiração divina, mas uma vontade concreta: que cada ser humano tivesse um entendimento claro e profundo sobre a pessoa de Jesus Cristo. Para executar este plano grandioso, Deus escolheu um meio específico: a nação de Israel.

Israel foi convocado para ser mais do que apenas um povo; foi chamado para ser um povo missionário. Este chamado não era para ser tomado de ânimo leve.

Os israelitas foram incumbidos de serem as testemunhas de Deus na Terra, conforme delineado em várias passagens do Antigo Testamento, como em Isaías 42.5-7 e 43.10-13.

Eles foram escolhidos para serem os portadores da mensagem divina, os embaixadores de Deus em um mundo que precisava desesperadamente conhecer o Seu amor e justiça.

Neste contexto, é vital compreender que o plano de Deus sempre teve um alcance global, mesmo quando focalizado através da lente de uma única nação.

Israel foi o veículo escolhido por Deus para iniciar este projeto missionário, um projeto que encontraria sua plenitude na vinda de Jesus Cristo.

A Falha de Israel

Embora Israel tenha sido escolhido para um propósito missionário específico, a nação falhou em várias ocasiões em cumprir esse mandato divino.

Os israelitas se desviaram, contaminando-se com as religiões pagãs dos povos ao seu redor. Além disso, tornaram-se excessivamente focados em sua identidade racial e nacional, negligenciando sua verdadeira vocação como testemunhas de Deus.

O Antigo Testamento está repleto de relatos que ilustram esses desvios, como a desobediência, idolatria e pecados morais que comprometeram a aliança com Deus.

Ezequiel 22.1-5, por exemplo, oferece uma crítica contundente ao estado moral e espiritual de Israel, destacando como a nação havia se afastado dos princípios divinos.

No entanto, é crucial notar que, apesar dessas falhas, Israel ainda serviu como uma bênção para outras nações. Mesmo em meio à desobediência e ao pecado, a nação continuou a ser um instrumento nas mãos de Deus, ainda que de forma imperfeita.

Isso nos mostra a soberania de Deus em usar até mesmo nossas falhas e erros para cumprir Seus propósitos divinos.

Este subtema nos lembra que, mesmo quando falhamos em nossa missão, Deus ainda pode usar-nos para abençoar outros e cumprir Seus planos eternos.

É uma lição tanto de advertência quanto de esperança, mostrando que Deus é capaz de trazer bem até mesmo de nossas falhas.

A Contribuição de Israel para o Mundo

Apesar de suas falhas e desvios, Israel ainda cumpriu um papel significativo como uma bênção para as nações. Um dos maiores presentes que Israel deu ao mundo foi o Antigo Testamento, uma coleção de textos sagrados que têm impactado a humanidade de maneiras incontáveis.

Os judeus não apenas receberam essas escrituras, mas também as preservaram e as traduziram para o grego, a língua franca da época, tornando-as acessíveis a um público mais amplo.

Além disso, os escribas judeus mantiveram viva a esperança messiânica, a ideia de que um dia os povos e nações do mundo ouviriam a Palavra de Deus e responderiam a ela.

Esta esperança encontrou sua realização máxima em Jesus Cristo, a Palavra encarnada, que emergiu de Israel como o Salvador do mundo (Jo 4.42).

Neste contexto, é impossível ignorar a contribuição monumental de Israel para o mundo. Mesmo em meio a falhas e desobediências, a nação foi usada por Deus para preparar o caminho para a vinda de Cristo.

Israel serviu como um farol, um precursor que apontava para a mensagem universal de salvação que seria plenamente revelada em Jesus.

Esta seção nos ensina que Deus pode usar qualquer pessoa ou nação, mesmo com suas imperfeições, para cumprir Seus propósitos divinos.

É uma mensagem de redenção e esperança, mostrando que Deus é o mestre em transformar falhas em futuros frutíferos.

Veja também: Lição 2 – Missões transculturais:  a sua origem na natureza de deus

O Amor de Deus para com Outras Nações

Nesta próxima seção, voltaremos nossa atenção para o amor abrangente de Deus que se estende além de Israel, alcançando todas as nações e povos do mundo.

Este amor universal é evidenciado em diversas passagens do Antigo Testamento e encontra sua expressão máxima na vida e ministério de Jesus Cristo.

Os Olhos de Deus Sobre Todos os Povos

Johannes Blauw, um renomado erudito em Missiologia, destaca que Deus sempre teve um olhar atento sobre todas as nações e povos desde o início dos tempos.

Este fato é corroborado em diversas passagens do Antigo Testamento, particularmente nos capítulos 40 a 55 do livro do profeta Isaías, na missão do profeta Elias a Serepta, e no livro do profeta Jonas.

Estas escrituras não são apenas narrativas históricas ou proféticas, mas também são profecias de restauração que apontam para um futuro onde as nações estarão entre os redimidos (Is 45.6,22; 49.6; 52.10).

Estes textos revelam que a preocupação de Deus não estava limitada apenas a Israel, mas se estendia a todas as nações e povos da Terra.

O Antigo Testamento, portanto, serve como um testemunho poderoso do amor universal de Deus. Ele mostra que o Criador sempre teve um plano inclusivo, um desejo de trazer salvação e restauração a todos, independentemente de sua origem étnica ou geográfica.

Este amor abrangente é uma das características mais distintas e magníficas de Deus, e é claramente evidenciado em sua Palavra.

A Viúva de Sarepta e o Profeta Elias

A história da viúva de Sarepta e do profeta Elias é uma das mais impactantes do Antigo Testamento, e serve como um exemplo vívido do amor de Deus que transcende fronteiras nacionais e étnicas.

Sarepta era uma cidade fenícia, situada ao sul de Sidom. Em um período de grande seca e fome, Deus enviou Elias a esta cidade estrangeira, especificamente à casa de uma viúva empobrecida.

Quando Elias chegou, a viúva estava preparando o que ela acreditava ser sua última refeição antes de enfrentar a morte inevitável para ela e seu filho.

No entanto, sua obediência à palavra de Elias resultou em um milagre extraordinário: a multiplicação da farinha e do azeite, conhecido como o milagre da botija.

Mas o milagre não parou aí. Quando o filho da viúva adoeceu e morreu, Elias, pelo poder de Deus, ressuscitou o menino, restaurando-o à vida.

A reação da mãe foi uma afirmação poderosa: “Nisto conheço, agora, que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade” (1 Rs 17.24).

Através deste ato, Deus se tornou conhecido a uma estrangeira, reafirmando que Seu amor e Sua graça não estão limitados por fronteiras geográficas ou identidades nacionais.

Esta narrativa nos mostra que Deus sempre teve um plano inclusivo, um amor que se estende a todas as nações e povos. Ele usa seus profetas e Seus milagres como testemunhos de Sua graça universal, confirmando que a preocupação de Deus para com as nações é, de fato, claramente evidenciada no Antigo Testamento.

A Missão de Jonas em Nínive

A história de Jonas é singular no Antigo Testamento por várias razões, uma das quais é que ele foi um dos raros missionários bíblicos enviados a estrangeiros. O tema central do livro de Jonas é “a misericórdia de Deus para com todos os homens” (Jn 1.2; 3.2; 4.4-11).

Jonas foi enviado a Nínive, a capital da Assíria, uma nação notória por sua crueldade, perversidade e imoralidade (Na 1.11; 2.12,13; 3.1,4,16,19).

A missão de Jonas era clara: advertir os ninivitas sobre o juízo divino iminente devido aos seus pecados. A Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD) destaca que o resultado dessa missão foi um dos despertamentos espirituais mais notáveis da história.

O rei de Nínive atendeu ao chamado ao arrependimento, levando seu povo ao jejum e à oração. Como resultado, o juízo divino foi evitado.

No entanto, Jonas ficou indignado com a misericórdia de Deus para com Nínive. Deus, então, usou essa situação para ensinar uma lição valiosa ao profeta: Seu amor e Sua misericórdia estendem-se a toda a humanidade (Jn 4.11).

Esta história nos ensina que o amor de Deus não conhece fronteiras e que Ele está disposto a estender Sua graça redentora a todos que se arrependem, independentemente de sua origem ou passado.

É uma mensagem poderosa que reafirma a preocupação de Deus para com todas as nações, algo que é consistentemente evidenciado ao longo do Antigo Testamento.

Alianças Entre Deus e a Humanidade no Antigo Testamento

Nesta seção final, exploraremos as diversas alianças estabelecidas por Deus com a humanidade, conforme documentado no Antigo Testamento.

Estas alianças não apenas moldaram a relação entre Deus e Seu povo escolhido, Israel, mas também têm implicações profundas para todas as nações e gerações.

As Alianças de Deus

A queda do homem em Gênesis 3 teve consequências devastadoras, não apenas para a humanidade, mas para toda a criação, que ficou sujeita ao pecado (Gn 3.1-6; Rm 8.20).

No entanto, Deus, em Sua infinita misericórdia e sabedoria, já tinha um plano para redimir a humanidade e restaurar a comunhão que havia sido perdida (1 Pe 1.19,20).

Para concretizar este plano, Deus estabeleceu várias alianças com a humanidade ao longo do Antigo Testamento.

Estas alianças podem ser categorizadas em dois tipos: condicionais e incondicionais. As alianças condicionais são aquelas em que ambas as partes, Deus e a humanidade, têm responsabilidades específicas a cumprir.

Por outro lado, as alianças incondicionais são aquelas em que Deus promete cumprir Sua parte, independentemente da fidelidade ou ação humana.

O objetivo dessas alianças sempre foi tornar conhecida a glória de Deus entre as nações e receber delas a legítima adoração.

Elas servem como marcos na história da redenção, mostrando o compromisso inabalável de Deus em restaurar a humanidade e toda a criação a um estado de graça e comunhão com Ele.

Estas alianças são mais do que meros contratos; são compromissos divinos que revelam o caráter e os propósitos de Deus, não apenas para Israel, mas para todas as nações e gerações.

Aliança Incondicional e Condicional

As alianças que Deus estabeleceu com a humanidade no Antigo Testamento podem ser classificadas em dois tipos distintos: Incondicionais e Condicionais.

Cada uma tem suas próprias características e implicações, mas ambas revelam aspectos fundamentais do caráter e dos propósitos divinos.

Aliança Incondicional

A Aliança Incondicional é uma expressão da soberania de Deus. Neste tipo de aliança, Deus, por Sua própria iniciativa e graça, compromete-se a conceder bênçãos específicas àqueles com quem faz o pacto.

Um exemplo clássico é a aliança feita com Abraão em Gênesis 12.1-4. Deus prometeu a Abraão que faria dele uma grande nação e que através dele todas as nações da terra seriam abençoadas.

Esta aliança foi estabelecida unicamente pela graça e iniciativa de Deus, sem qualquer condição imposta a Abraão.

Aliança Condicional

Por outro lado, a Aliança Condicional envolve um contrato mútuo entre Deus e o ser humano. Neste tipo de aliança, Deus promete bênçãos específicas e também estipula punições em caso de não cumprimento das condições preestabelecidas.

Deuteronômio 28 é um exemplo notável, onde Deus delineia as bênçãos para a obediência e as maldições para a desobediência.

Um dos compromissos mais significativos feitos por Deus foi com o rei Davi, uma aliança que teve implicações globais e culminou no advento do Senhor Jesus como o Salvador do mundo (Gl 4.4).

Este compromisso não apenas confirmou a linhagem davídica como a linhagem messiânica, mas também reafirmou o amor e a graça de Deus estendidos a toda a humanidade.

Em resumo, através dessas alianças, Deus revelou Seu plano redentor e Sua vontade de restaurar a comunhão com a humanidade, não apenas através do povo de Israel, mas estendendo Sua graça e misericórdia a todas as nações e gerações.

Conclusão

Ao longo desta lição, exploramos a amplitude e profundidade do plano de Deus conforme revelado no Antigo Testamento. Este plano não se limita a uma nação ou povo, mas abrange toda a humanidade.

Deus deseja revelar Sua glória a todos os povos e nações, e para isso, Ele estabeleceu diversas alianças, tanto condicionais quanto incondicionais, como meios de redenção e restauração.

Israel, como povo escolhido de Deus, foi frequentemente advertido pelos profetas para não monopolizar a mensagem de salvação. O Salmo 96.3 nos lembra que Israel foi instruído a proclamar “entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas”.

Esta instrução não apenas ressalta a universalidade do amor e da graça de Deus, mas também serve como uma ponte para entender o tema das missões no Novo Testamento, que será o foco da nossa próxima lição.

Em resumo, o Antigo Testamento estabelece uma base sólida para compreender o alcance global do amor de Deus e Sua missão redentora para toda a humanidade.

Ele nos prepara para a revelação completa deste amor e missão que encontramos em Jesus Cristo, o Salvador do mundo, conforme detalhado no Novo Testamento.

Com isso, concluímos nossa lição sobre a universalidade do plano de Deus e a importância das alianças no Antigo Testamento. Espero que esta exploração tenha sido enriquecedora e esclarecedora para você.

Fontes

Para a elaboração deste artigo, as fontes primárias foram os textos bíblicos citados ao longo da lição. Estes incluem:

  • Gênesis 12.1-4
  • Deuteronômio 28
  • Isaías 42.5-7, 43.10-13, 45.6,22, 49.6, 52.10
  • Ezequiel 22.1-5
  • Mateus 24.14, 28.18-20
  • Romanos 8.20
  • 1 Pedro 1.19,20
  • Gálatas 4.4
  • Salmo 96.3
  • 1 Reis 17.24
  • João 4.42
  • Naum 1.11, 2.12,13, 3.1,4,16,19
  • Jonas 1.2, 3.2, 4.4-11

Além disso, o artigo também fez referência à Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD) para fornecer comentários adicionais e insights sobre o livro de Jonas.

O trabalho de Johannes Blauw em Missiologia também foi citado para fornecer uma perspectiva acadêmica sobre o tema das missões no Antigo Testamento.

Essas fontes serviram como a base para a exploração e desenvolvimento dos temas abordados na lição.

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